Nunca houve tantos inscritos no ensino superior. São 416 mil

Total de estudantes aumentou 20% nos últimos seis anos. Mestrados são o único ciclo de estudos onde o número de alunos não tem crescido.

Há 416.652 estudantes inscritos no ensino superior no ano lectivo em curso. É o número mais elevado de sempre, no final do primeiro semestre, segundo dados da Direcção-Geral de Estatísticas do Ensino Superior e da Ciência (DGEEC) agora divulgados. No espaço de seis anos lectivos, o total de alunos nas instituições de ensino aumentou 20%. O crescimento é mais acentuado no sector politécnico e também no ensino privado.

Os números constam do Registo de Alunos Inscritos e Diplomados do Ensino Superior, um inquérito que é feito anualmente pela DGEEC, tanto às instituições públicas como privadas. Os dados dizem respeito ao primeiro semestre deste ano lectivo. Até agora, o recorde de inscritos no ensino superior remontava a 2002/03, altura em que 400.831 pessoas estavam matriculadas nas universidades e institutos politécnicos. Foi a única vez em que o total de inscritos tinha ultrapassado os 400 mil no primeiro semestre do ano lectivo.

A partir dessa altura, o número de estudantes no ensino superior caiu sucessivamente, até atingir o ponto mais baixo em 2015/16 – eram então 346.347 os inscritos. A tendência de perda inverteu-se nos últimos anos. Há, neste ano lectivo, mais 70 mil inscritos do que em 2015/16, segundo os dados agora revelados pela DGEEC. Isto significa que houve um aumento de 20% no total de alunos no espaço de seis anos.

Esta subida é mais acentuada no sector politécnico, onde o número de inscritos aumentou 28% nesse período. São agora 129.396 os estudantes nos institutos superiores públicos. Este crescimento é “muito significativo”, avalia a recém-eleita presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Maria José Fernandes. Esta responsável aponta como principal factor que influenciou esta evolução o investimento feito nos cursos técnicos superiores profissionais, formações de dois anos que são um exclusivo do sector politécnico.

Há, neste ano lectivo, 19.247 inscritos neste tipo de formações, o que significa um aumento de 200% face a 2015/16. “Boa parte destes alunos prosseguem estudos para as licenciaturas e com bons resultados”, valoriza também Maria José Fernandes. Os politécnicos continuam a não preencher todas as vagas dos seus cursos no Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, mas têm conseguido “reforçar os outros contingentes”, captando alunos através de concursos locais, do público com mais de 23 anos e também de estudantes internacionais.

Para o presidente da Federação Académica de Lisboa, João Machado, este aumento do número de estudantes no ensino superior explica-se pela diminuição do valor das propinas de licenciatura nos últimos anos – agora fixadas em 689 euros. “Há hoje mais estudantes capazes de pagar a frequência do ensino superior”, expõe. Os dados divulgados pela DGEEC reforçam esta conclusão do dirigente estudantil. É que num cenário de aumento transversal do número de inscritos, acima dos 20% tanto nas licenciaturas como nos doutoramentos, os dados dos mestrados destoam. Estão inscritos 112.213 nestes ciclos de estudos, um valor que está menos de 1% acima do verificado no ano lectivo 2015/16.

João Machado lembra que, ao contrário do que aconteceu nas licenciaturas, o valor das propinas de mestrado não tem parado de subir nos últimos anos. O panorama dos custos de frequência de um mestrado no ensino superior nacional é bastante diverso, começando nos 700 euros anuais, mas podendo chegar a alguns milhares de euros, sobretudo nas áreas ligadas à Gestão.

Os números agora divulgados pela DGEEC mostram um aumento do peso do ensino público no total de inscritos no ensino superior. Em 2002/03, ano do anterior recorde de matrículas, havia 290.532 estudantes nas instituições estatais e 110.299 nas privadas – ou seja, as universidades particulares valiam 28% do total. Agora, há 337.834 alunos nas universidades e politécnicos públicos e 78.818 nas congéneres privadas, que passaram a ensinar 19% dos alunos.

Ainda assim, o sector privado é aquele que mais cresce desde 2015/2016, com um aumento de 41% no número de inscritos. Depois da crise, que levou ao desaparecimento várias instituições de ensino privado, o sector “reestruturou-se” aponta António Almeida Dias, presidente da Associação Portuguesa de Ensino Superior Privado (Apesp), “encerrando cursos com menos procura” e abrindo “outros mais atractivos”, que ainda estão em fase de crescimento. Ao mesmo tempo houve “um reforço da confiança” no sector privado, fruto também da aplicação de novas regras pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, que também ajudam a explicar esta evolução, afirma o dirigente da Apesp.

Samuel Silva 2 de Maio de 2022, Público