Depois de 54,7 milhões de euros e 20 patentes, parceria de inovação da Bosch e Universidade do Minho duplica investimento e terá mil pessoas.

 

A Bosch está a crescer e, diz o seu líder em Portugal, Carlos Ribas, recomenda-se. A empresa alemã está a apostar forte na inovação nos automóveis e conta com Portugal como um dos centros de desenvolvimento mais relevantes na missão de chegar o mais depressa possível ao carro autónomo. A Bosch e a Universidade do Minho apresentaram na passada quinta-feira, em Braga, os resultados da II fase da sua parceria de inovação que começou em 2010 – ficou efetiva em 2013. De 2015 até agora, foram investidos 54,7 milhões de euros, contratados 267 engenheiros – o projeto contou com mais de 500 pessoas – e foram registadas 20 patentes, o que deu origem a 52 artigos científicos. O projeto tinha 288 pessoas no seu início, em 2015, 166 da Bosch e 122 da Universidade e foi crescendo para as 500.

 

“Esta parceria é uma referência na Europa. Estamos a fazer algo notável e único em Portugal e raro na Europa”, disse com entusiasmo Carlos Ribas. E qual o resultado da parceria? Melhorar a qualidade de vida e o ambiente a bordo de um automóvel é o lema, que também inclui os passos que vão tornar o carro verdadeiramente autónomo numa realidade. Para aí chegarem será fulcral a III fase do projeto que começa agora e terá a duração de três anos. O investimento previsto – que envolve candidaturas já feitas aos programas europeus Horizonte2020 e Portugal2020 – será de 108 milhões de euros. O valor duplica assim face à segunda fase – desde o início do projeto, de 2013, que já foram 76 milhões de euros. Mil pessoas na III fase Carlos Ribas estima ainda que vão estar mais de mil pessoas neste projeto de condução autónoma e assistência à condução, a maioria terá de ser contratada, daí que a empresa esteja à procura de talento que já começa a ser escasso em Portugal. “Muitos talentos que a Universidade do Minho nos apresenta, depois ficam a trabalhar mesmo na Bosch e já começam é a ser escassos”, disse o líder da Bosch em Portugal. O reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro, admitiu que a parceria com a Bosch é “emblemática”, que as necessidades de talento em tecnologia são cada vez maiores e que a instituição que gere continua a crescer entre Braga e Guimarães por vários locais. São 32 os centros de investigação que pertencem à Universidade que tem 1300 docentes, 280 bolseiros de projetos de investigação e é a segundo instituição portuguesa com mais patentes registadas – tem 200 desde o ano 2000. Comunicação entre carros Uma das inovações que a empresa alemã desenvolve em Braga é a comunicação entre automóveis. Um produto que foi demonstrado pela primeira vez em Portugal no evento “Innovative Car Experience”, que se realizou no Fórum Braga precisamente no mesmo dia em que foi anunciada a III fase da parceria. A Bosch tem já vários clientes que querem o sistema de comunicação entre automóveis que “pode salvar vidas”, mas não podem ainda ser revelados. “Só quando começarmos mesmo a integrar nos automóveis de alguns dos nossos parceiros poderemos revelar”, admitiu Carlos Ribas. Outra das inovações envolve aplicativos cloud para carros inteligentes. Isso mesmo está a ser testado com a Tub, a empresa de transportes públicos de Braga. A tecnologia promete não só saber o posicionamento exato de um veículo, como melhorar rotas, calcular o tempo exato de espera numa paragem de autocarro, entre outros dados. A Bosch tem sido mesmo “pressionada por parceiros” que querem lançar o mais depressa possível esses produtos no mercado, daí o crescimento no investimento nesta III fase que terá maior concertação com os centros de inovação da Alemanha. A aposta da Bosch na inovação continua a aumentar. A empresa cresceu 10% nas vendas em 2017 para os 78,1 mil milhões de euros e aumentou em 7,8% o peso das soluções de mobilidade no total das vendas globais. O investimento em novas tecnologias e inteligência artificial foi de 300 milhões de euros, a maioria para ajudar a melhorar a vida a bordo do automóvel. Carlos Ribas revelou também que cerca de 95% do que é produzido pela Bosch em Portugal é para exportação. E se Braga é o centro de inovação automóvel, Aveiro tem a termotecnologia da empresa e Ovar o desenvolvimento dos sistemas de segurança. A Bosch está em Portugal “para ficar”.

 

João Tomé

Dinheiro Vivo